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quarta-feira, 21 de abril de 2010
O que estou lendo: O Abolicionismo, de Joaquim Nabuco
Abril de 2010. Mais de um milhão de famílias, só no Ceará, recebem bolsas do Governo. Há cidades naquele estado em que apenas meia dúzia de pessoas tem emprego! Seriam todos sobreviventes de um terremoto, de um vulcão? Não, essa humilhante condição humana é uma herança direta da escravidão extinta no Brasil há mais de cem anos!
Logo nas primeiras páginas d' "O Abolucionismo", de Joaquim Nabuco, leio:
"Depois que os últimos escravos houverem sido arrancados ao Poder sinistro que representa para a raça negra a maldição da cor, será ainda preciso desbastar, por meio de uma educação viril e séria, a lenta estratificação de trezentos anos de cativeiro, isto é, de depotismo, superstição e ignorância. O processo natural pelo qual a Escravidão fossilizou nos seus moldes a exuberante vitalidade do nosso povo durou todo o período do crescimento, e enquanto a Nação não tiver consciência de que lhe é indispensável adaptar à liberdade cada um dos aparelhos do seu organismo de que a escravidão se apropriou, a obra desta irá por diante, mesmo quando não haja mais escravos."
As bolsas-tudo distribuídas à população não só revelam-se inúteis na solução do problema como tem efeitos bem perversos. Não é evidente que elas são, na verdade, modernas algemas que mantém o status-quo de séculos? Observemos: ontem havia mercado de escravos, hoje, vemos mercado de eleitores.
A obra de Joaquim Nabuco é impressionantemente atual e por isso mesmo, perturbadora. Eu recomendo.
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